terça-feira, 10 de novembro de 2009

Comportamento

O tipo efeminado é abominado e o tipo macho é a procura do elo perdido para muitos gueis, que procuram relacionamento amoroso ou apenas sexo.


Paira no imaginário social a imagem do macho. Muitas vezes como estereótipo de jeitos brutos, que senta todo aberto, que coça o saco em público sem pudor, que cospe longe, que fale grosso entre outras coisas.

De acordo com o Dicionário Houaiss, o macho é tudo “relativo à ou o próprio sexo masculino, com características próprias do homem, como: força, energia, virilidade; másculo”.

Mais do que as definições do que é ser macho é saber como estes conceitos são construídos no social. São as relações de gênero, que envolve o tipo masculino e o feminino e suas construções sociais a partir do sexo biológico.

Muito embora o gênero homossexual seja mais livre de convenções quanto ao tipo masculino, é exigido que gueis tenham conduta e papel masculinos. É muito comum gueis procurarem tipos masculinos, seja ele efeminado ou não.

Vejamos como a homofobia cristalizada se apresenta em anúncios nos sites de relacionamento com pessoas do sexo masculino.

“Machos”, “Homens de verdade”, “Sarados”. Procuram pessoas com características iguais e rejeitam os efeminados.

Quanto aos perfis desses sites de relacionamento nos quais os gueis se descrevem como machos e descartam os efeminados, muitos já levaram passivo por ativo. “Saindo do virtual, todo mundo é macho e afeminado.

O importante é ser interessante. Isso no esquema de procurar alguém no sentido mais afetivo. Se for para sexo casual, ele é prático.

Se o lance for mais genital, tem muitos lugares onde as pessoas se escolhem e se divertem só pelo corpo. É só ter noção. Não procurar romance numa orgia, por exemplo.

Temos algo muito mais complexo ai que foi construído ao longo do tempo, pela não aceitação social do gênero homossexual, que por muito tempo manteve-se na clandestinidade.

Mesmo hoje diante de tanta visibilidade e conquistas do movimento homossexual, ainda forçam pessoas sejam do sexo masculino ou feminino a manterem-se por trás da cortina.

Sufocando assim seus desejos mais íntimos, saudáveis e principalmente a liberdade de expressar seus sentimentos pelo mesmo sexo.

Fugindo a regra geral, alguns gueis não fazem tal seleção. “Gostam de homem e ponto!

Para esse grupo o homem tem que ser seguro de si e sabe que mesmo um guei efeminado pode lhe atrair sim.

No plano afetivo acontecem relacionamentos duradouros ou curtos.

Não namorar seria um pseudo-preconceito, uma vez que em se tratando de afetividade, seria idiotice não permitir-se momentos de qualidade com o outro por um aspecto ínfimo dentro das potencialidades e diversidades que o outro carrega consigo.

"Sensível", o tipo machão rejeita este adjetivo. Ele parece ir muito além da relação atividade/passividade e também do tipo que cria dele próprio.

O que podemos concluir de um tipo machão/hétero que já foi capas de revistas gueis, já beijou homem, transou com travesti e ainda cultiva o tipo pitboy de ser, ou seja, o machão? Deixo aqui essa questão.
Ele é guei? Nem parece... – Nesta história do ser guei e ter jeito de macho, muitos fazem comentários do tipo “ele é guei, mas não parece”. Isso já ocorreu e ocorre com alguns.

Para algumas pessoas este tipo de citação pode parecer até um elogio, mas não se engane. De fato esse tipo de coisa mexe com o ego e auto-estima da pessoa alvo, podemos chamar de crítica destrutiva.

Aquilo funciona como se você quebrasse um copo dentro de um pano pra causar menos impacto. O que não deixa de ser uma atitude destrutiva.

Por sua vez, quando o assunto é o guei que se diz macho, vangloriando-se em detrimento dos outros gueis, nada mais é do que uma falsa ilusão e não aceitação de si mesmo enquanto homo ou bi, isso é pura ilusão. “Se bem que sexo é pura ilusão”.

Mas a questão é que o tipo efeminado está ligado ao estereótipo de bicha escandalosa, gente sem educação e deselegante.

No entanto este tipo da bicha “fechativa” também é uma construção social do meio guei.

Segundo James Green, no livro Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX faz um extenso levantamento da vivência homossexual no Brasil e aponta alguns estereótipos da década de 60, construídos e aceitos por muitos gueis. Quando se assumiam, eles incorporavam trejeitos femininos na sua concepção de gênero. Estes eram chamados de “bonecas”.

Por outro lado, ele aponta alguns “homens verdadeiros” ou “bofes”, que mantinham relações sexuais com as “bonecas”, postura viril e eram casados ou tinham namoradas. No entanto, estes não se consideravam gueis.

Green avalia que dentro desse mundo de bofes e bonecas, a idéia de duas bichas praticando sexo era tão repugnante para as bonecas quanto era intensa a aversão da maioria da população ao comportamento homossexual em geral.

Quando dois homens reconheciam que ambos eram homossexuais e queriam ter relações sexuais com o outro, isso era incompreensível para muitas “bonecas”.

Esse modelo era um consenso dentro e fora do grupo homossexual daquela época. Será que ainda nos cabe esse tipo de afirmativa nos dias atuais?!

Do reprimido, também nasceu à cultura colorida. O “Boom” aconteceu quando a indústria de consumo e do entretenimento descobriu este filão.

Antes era um mundo clandestino, um gueto, da subcultura. Quem freqüentava o meio, vivia às escuras.

Com essa abertura de lugares de freqüência homossexual como bares e boates, a década de 90 criou a expressão “fora do meio”, mais numa relação de afirmação do “não ser efeminado ou de ser “macho”.

Muitos homossexuais, para se tornarem mais machos, abominam o meio guei. É nesta bipolaridade dentro-fora, másculo-efeminado, perto-longe que se construiu o mundo homossexual.

Tudo vai depender da proximidade ou distância que um vê o outro. O sensível sou “Eu” ou o amigo próximo a “mim”.

No sentido de proximidade afetiva e sexual, o macho sempre vai ser o “outro”. Tudo depende do lugar em que cada um se coloca.

Se um guei tem um namorado, esse tal namorado vai ocupar a posição do “macho” tanto para o namorado como para seus amigos. Já este namorado pode ser a bicha no seu núcleo de amizade. Mesmo que seja uma forma de brincadeira ou deboche.