quarta-feira, 15 de julho de 2009

Etnocentrismo, capturemos a essência dessa palavra e aliviemo-nos de alguns mal entendidos proporcionados a nossa trajetória cotidiana ate então.

Visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.

No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade.

O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do outro nos termos da cultura do grupo do “eu”.

A expressão fulano é muito louco “pode ser elogiosa em certos casos e pejorativa em outros”.

Assim, como o “outro” é alguém calado, a quem não é permitido dizer de si mesmo, mera imagem sem voz, manipulado com desejos ideológicos, o índio é, para o livro didático, apenas uma forma vazia que empresta sentido ao mundo dos brancos.

Em outras palavras, o índio é alugado “na história do Brasil para aparecer por 3 vezes em 3 papéis diferentes:

1º no capítulo do descobrimento – ali ele aparece como “selvagem”, “primitivo”, “pré-histórico”, “antropófago”, etc. Isto era para mostrar o quanto os portugueses colonizadores eram “superiores e civilizados”.

2º papel do índio é no capítulo da catequese – nele o papel do índio é de “criança”, “inocente”, “almas virgens”, etc. para fazer parecer que os índios é que precisavam da “proteção” que a religião lhes queria impingir.

3ºpapel é muito engraçado. É no capítulo “etnia brasileira” – se o índio já havia aparecido como selvagem ou criança, como iriam falar de um povo – o nosso – formado por “portugueses, negros e selvagens”. Então aparece um novo papel para o índio, num passe de mágica etnocêntrica, vira corajoso, altivo, cheio de amor à liberdade.

Assim são as sutilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo.

“A indústria cultural” – TV, jornais, revistas, publicidade, certo tipo de cinema, rádio – está freqüentemente fornecendo exemplos de etnocentrismo.

No universo da indústria cultural é criado sistematicamente um enorme conjunto de “outros” que servem para reafirmar, por oposição uma série de valores de um grupo dominante que se auto-promove a modelo de humanidade.
As idéias etnocêntricas que temos sobre as mulheres, os negros, os empregados, os paraíbas de obras, os colunáveis, os nordestinos, os doidões, os surfistas, as dondocas, os velhos, os caretas, os vagabundos, os gays e todos os demais “outros” com os quais temos familiaridades, são uma espécie de conhecimento, um saber baseado em formulações ideológicas, que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etnocêntrico.

Mas, existem idéias que se contrapõem ao etnocentrismo, uma das mais importantes delas é a de RELATIVIZAÇÃO.

Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando quando o significado de um ato não é visto na sua dimensão absoluta, mas no contexto em que acontece: estamos relativizando quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos.

Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado.

Relativizar não é transformar as diferenças em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem ou mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.

A diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa. Ela não é uma hostilidade do “outro”, mas uma possibilidade que o outro pode abrir para o “eu”.

Bem se compreendermos a essência desta palavrinha chamada etnocentrismo, acredito entenderemos melhor algumas questões básicas do cotidiano da vida humana, da sexualidade humana.

Entenderemos então que não podemos ver o mundo dentro apenas de uma visão heterocentrica, sexista, misógina, patriarcalista, em fim, teremos uma visão muito mais ampla e rica em potencialidades.